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Importância da atualização de dados do sistema de cria brasileiro


Vitória Toffolo Luiz

Guilherme Pugliesi

Oscar Alejandro Ojeda-Rojas

Augusto Hauber Gameiro

Rodrigo Silva Goulart

É reconhecida a falta de informações sobre as fazendas de gado de corte no Brasil, especificamente, as propriedades que produzem bezerros (sistema de cria). Nesse sentido, pouco se sabe sobre o que ocorre “da porteira para dentro das propriedades” quanto aos manejos adotados na nutrição das matrizes, dos reprodutores e dos animais jovens, bem como à utilização de manejos relacionados ao bem-estar animal e ao uso de tecnologias reprodutivas. Além disso, pouco se sabe sobre o perfil dos produtores quanto à sucessão familiar, gestão zootécnica e controle financeiro.

Dentre as fazendas de bovinos de corte, o sistema de cria é o responsável pelo fornecimento de animais jovens para reposição de fêmeas e para destinar animais às fases de recria e engorda. Nesta fase, há grande influência do mercado e do ciclo pecuário nos preços de compra e venda dos bovinos e da carne in natura, que sofrem grandes flutuações. Portanto, é fundamental que haja movimentos para a melhoria do sistema produtivo em todo o território nacional.

Bons índices produtivos e reprodutivos durante a fase de cria podem reduzir a idade dos animais ao abate, fato este, essencial para o comércio de carne bovina de qualidade e desejável por muitos consumidores. Além disso, a eficiência do sistema favorece o bom retorno financeiro ao pecuarista, especialmente quando cada vaca em idade reprodutiva presente na fazenda desmama um bezerro saudável ao ano.

Entretanto, desmamar um bezerro saudável ao ano por vaca, não é uma tarefa fácil para o produtor, pois envolve diversos fatores que merecem controle e atenção. A manutenção da condição corporal da matriz, a nutrição adequada durante o período seco do ano, a suplementação das matrizes e dos bezerros, a redução do anestro pós-parto, a perda gestacional, o adequado manejo agronômico da pastagem, o adequado protocolo sanitário dos bezerros ao nascimento, o melhoramento genético, são alguns dos principais desafios existentes nas fazendas. Além disso, outro grande desafio é o controle dos dados (econômicos, gerenciais e zootécnicos), a avaliação dos índices zootécnicos e a rentabilidade da produção anual.

Outro grande entrave em fazendas de cria é a enorme escassez de funcionários qualificados e engajados no trabalho na lida do gado. No entanto, pouco se sabe quanto ao interesse dos produtores rurais em relação à capacitação dos funcionários e se técnicas e estratégias de gestão de pessoas estão sendo utilizadas nas fazendas de cria.

Curiosamente, a presença do touro junto às vacas durante o ano inteiro ainda é uma realidade nestas fazendas, ocasionando dificuldades quanto ao controle reprodutivo e econômico da propriedade. No ano de 2021 apenas 26% das matrizes para corte foram inseminadas artificialmente no Brasil, ou seja, 74% das fêmeas em idade reprodutiva foram submetidas à monta natural (ASBIA, 2021).

A monta natural sem definição de estação, ou seja, a presença do touro com as vacas o ano inteiro, não facilita o manejo de identificação individual (vaca e bezerro), dificultando assim, o controle de nascimentos e o reconhecimento das vacas em anestro pós-parto e vacas de descarte com características reprodutivas indesejáveis. O anestro pós-parto é o grande causador de intervalo entre partos (IEP) longos, de forma que a IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), pela sincronização hormonal, facilita a volta da ciclicidade.

Diante do cenário exposto, fica evidente a necessidade de elaborar trabalhos que visam identificar tanto as tecnologias adotadas, quanto as dificuldades enfrentadas pelas propriedades brasileiras que trabalham com cria. Sendo assim, pesquisas de levantamento de dados por meio de questionário são uma importante alternativa para identificar a realidade dessas fazendas.

A título de curiosidade, dados preliminares da pesquisa conduzida em parceria pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP) e pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ/USP) utilizando dados de fazendas de cria, coletados com o uso de questionários on-line, serão apresentados a seguir.

A avaliação de 17 fazendas de cria localizadas no estado de São Paulo (Figura 1) demonstrou uma predominância de fazendas com área menor ou igual a 1.000 hectares (76%, n = 13) e, dentre estas, em 85% (n = 11, do total de 13 propriedades) os proprietários dependem de outras atividades para compor a renda financeira. Ainda, ao avaliar propriedades contendo tamanho igual ou menor que 1.000 hectares, observou-se que 54% (n = 7, do total de 13 propriedades) das propriedades avaliadas possuem um sucessor para dar continuidade a atividade de cria.

Figura 1. Dados preliminares da distribuição de respondentes referente às propriedades de cria localizadas no estado de São Paulo. Fonte: Autoria própria.


Pesquisas como a citada acima possibilitam identificar as diversas particularidades dos proprietários rurais, como também auxiliam na construção de soluções para os desafios diários enfrentados pelos mesmos. A caracterização das fazendas de cria em âmbito nacional, por região ou estado, traz informações importantes e que facilitam a ação dos extensionistas rurais e consultores nos lugares que mais necessitam de apoio técnico. Ademais, fortalece a cadeia das empresas de insumos, possibilita a elaboração de políticas públicas e torna interessante a concessão de créditos rurais por bancos, fatores primordiais para aumentar a eficiência econômica, zootécnica, social e ambiental das fazendas de cria no Brasil.


Referência Bibliográfica

ASBIA. Associação Brasileira de Inseminação Artificial. Index ASBIA 2021. Disponível em: http://asbia.org.br/newsite/?page_id=3414.


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