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Resiliência: como aplicar este conceito na produção animal?

Vanessa Theodoro Rezende¹

Gustavo Roberto Dias Rodrigues²

Augusto Hauber Gameiro¹

Joslaine Noely dos Santos Gonçalves Cyrillo³

¹ Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Pirassununga, São Paulo.

² Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais.

³ Centro Avançado de Pesquisas em Bovinos de Corte, Instituto de Zootecnia, Sertãozinho, São Paulo.


A resiliência no contexto da produção animal é a capacidade de um indivíduo ser minimamente afetado ou rapidamente retornar ao estado fisiológico após a exposição a algum distúrbio (Colditz, 2022). Estas perturbações podem ser caracterizadas por fatores macro ambientais, como temperatura, umidade, disponibilidade de forragem, ou micro ambientais, como por exemplo doenças e interações sociais (Mulder et al., 2013).

Cada animal é exposto a uma diversidade de estímulos ambientais e é desejável tanto para melhoria do bem-estar na produção animal quanto na sua produtividade comercial, que ele tenha capacidade de superar estes estímulos desafiadores. Neste sentido, têm crescido o interesse sobre como selecionar animais mais resilientes e como incluir esta característica em programas de seleção, com o objetivo de prover animais com características produtivas mais robustas (Laghouaouta et al., 2021).

Os métodos para identificação dos animais resilientes variam na comunidade científica, porém todos têm em comum parâmetros fisiológicos e/ou zootécnicos para avaliar a capacidade de um animal em superar ou não determinado desafio (ex.: ganho de peso, resposta imune, produção leiteira, indicadores reprodutivos etc.) (Colditz, 2022). Para isso, utilizam-se mensurações constantes das características produtivas dos animais, além da identificação dos possíveis fatores estressores (Berghof et al.,2019). Após a identificação do fator estressor e sua duração, é estimado qual seria o efeito no animal caso não tivesse ocorrido este desafio. Isto pode ser baseado nas estimativas de ganho de peso, produção leiteira, produção de mediadores celulares de resposta imune etc.

Na suinocultura foi avaliada a resiliência de suínos em fase de crescimento ao desafio de serem vacinados. Para isso, foram avaliados o ganho de peso médio dos animais antes, durante e após o período de vacinação, além da avaliação de proteínas de fase aguda, que indicam a efetividade da vacina em determinado animal. Os resultados apontam que há uma ampla variedade de animais dentro do sistema produtivo, podendo dividi-los em três classes de acordo com a resiliência. Ou seja, existem animais susceptíveis ao manejo de vacinação, que são aqueles que perdem peso ou não desenvolvem imunidade após a vacina; aqueles medianos, que se comportam como o esperado após o manejo de vacinação, e por fim, aqueles resilientes, que são animais que superam em ganho de peso e apresentam boa cobertura vacinal após o manejo, e podem ser considerados minimamente afetados por esse tipo de estresse. O estudo também conclui que há uma capacidade de seleção para esta característica, já que há capacidade de ela ser herdável dentro do rebanho (Laghouaouta et al., 2021).

Resultados semelhantes foram encontrados na avaliação de poedeiras e sua capacidade de resiliência a doenças. Utilizando parâmetros de ganho de peso, imunidade e incidência de doenças, concluiu-se que medidas de ganho de peso podem ser utilizadas como parâmetros de resiliência e possuem potencial de serem incluídas em programas de melhoramento genético (Berghof et al., 2019b).

Em bovinocultura leiteira, analisando dados de lactação de vacas holandesas americanas, concluiu-se que a resiliência pode proporcionar vacas mais longevas e mais produtivas. E que há possibilidade de indicadores de resiliência em diferentes fases da curva de lactação e que estes indicadores podem contribuir para o desenvolvimento de programas de melhoramento na raça (Chen et al., 2023).

Indicadores de resiliência na produção animal podem auxiliar em programas de melhoramento genético e melhoria do bem-estar dos animais de produção. Estes indicadores tornam-se ainda mais interessantes de serem aplicados se considerarmos as mudanças climáticas no planeta. Animais resilientes seriam menos impactados por essas mudanças e sofreriam menos com as variações ambientais que já são visíveis em todo o mundo. Sendo assim, o desenvolvimento de indicadores de resiliência em sistemas de produção tropicais pode ser de extremo interesse para o desenvolvimento da produção animal no Brasil.


Referências


Berghof, T.V.L.; Poppe, M.; Mulder, H.A. Opportunities to improve resilience in animal breeding programs. Frontiers in Genetics, v. 9, p. 692, 2019.

Berghof, T.V.L.; Bovenhuis, H.; Mudder, H.A. Body weight deviations as indicator for resilience in layer chickens. Frontiers in Genetics, v. 10, 1216, 2019.

Chen, S.Y.; Boerman, J.P.; Gloria, L.S.; Pedrosa, V.B., Doucette, J., Brito, L.F. Genomic-based genetic parameters for resilience across lactations in North American Holstein cattle based on variability in daily milk yields records. Journal of Dairy Science, 106, 2023.

Colditz, I.G. Competence to thrive: resilience as na indicator of positive health and positive welfare in animals. Animal Production Science, v. 62, n.15, p. 1439-1458, 2022.

Laghouaouta, H.; Pena, R.N.; Ros-Freixedes, R.; Reixach, J.; Díaz, M.; Estany, J.; Armengol, R.; Bassols, A.; Fraile, L. A methodology to quantify resilience in growing pigs. Animals, v. 11, 2970, 2021.

Mulder, H.A.; Rashidi, H. Selection on resilience improves disease resistance and tolerance to infections. Journal of Animal Science, v.98, p. 3346-3358, 2017.


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