por Isabela Almeida Marquesini¹*
Gustavo Lineu Sartorello²
Augusto Hauber Gameiro²
Diferentemente do imaginado no passado em que se afirmava que a criação de búfalos estaria destinada somente a locais onde as instalações eram inadequadas para bovinocultura, o que tem sido observado são criadores que começam a se organizar em cadeias agroindustriais para uma maior expansão do mercado de produtos oriundos da bubalinocultura, tanto de derivados lácteos como também para produção de carnes.
O rebanho de búfalos no Brasil ainda é modesto em termos quantitativos, frente a outras produções mais tradicionais no país. A Tabela 1 demonstra os principais rebanhos do país no período de análise.
Tabela 1. Rebanho das principais espécies de produção no Brasil entre os anos de 2015 e 2018, em cabeças de animais
Apesar do número de búfalos não ser tão representativo dentre as principais produções, o Brasil ainda concentra o maior rebanho dos países das Américas, 99,5% segundo os números da FAO (2018). Em segundo lugar, o país Trinidade e Tobago possui 6.145 cabeças, equivalente a 0,44%, e em terceiro lugar Suriname, com 905 cabeças, equivalente a 0,06%. Ressalta-se que esses são os números oficiais disponibilizados na base da FAO. Além disso, o Brasil conta com exemplares com produtividade leiteira comparável aos melhores da espécie e, no segmento de corte, a exemplo dos zebuínos, já dispõe de animais com desempenho bem mais expressivo que o das existentes nos países de origem Asiáticos, onde a atividade é relativamente pouco explorada comercialmente (BERNADES, 2007).
Há escassez de informações em relação à cadeia produtiva da bubalinocultura e suas diferenças de produtos com os de origem bovina, fazendo com que grande parcela dos consumidores ainda tenha receios. Os búfalos domésticos têm ganhado espaço na pecuária por suas características que vão além de produtividade e produção, como a docilidade, a mais fácil adaptação, maior rusticidade, longevidade e precocidade. Essas características facilitam o manejo, o que pode tornar uma boa opção econômica em diversos ambientes. Existem também algumas diferenças na composição química da carne crua bovina e bubalina, como demonstrado na figura abaixo.
Figura 1. Diferenças na composição química da carne crua bovina e bubalina, com destaque para a características de baixo nível de lipídeos da carne de búfalo, 72,6% menor em relação a carne bovina e um menor teor de colesterol.
Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB), a carne de búfalo tem 40% menos colesterol, podendo diminuir as chances de proporcionar doenças cardiovasculares e 55% menos calorias do que a carne bovina. Com aumento da preocupação da população com a saúde e a ingestão de gorduras, a carne bubalina também apresenta menor teor de gordura entremeada (Prado, 2016). Outra característica positiva é a presença de ômega-3 e ômega-6, em que o consumo de 10g de carne permitiria atingir mais de 20% da necessidade de consumo diário de ômega-3. A concentração de ômega-3 na carne bubalina é inferior somente à da carne de peixe.
Um atributo que também deve ser considerado na carne bubalina é o fato de não existir diferenças marcantes em relação sabor, aroma e maciez quando comparada com a carne bovina. Há diferenças na cor da gordura das carnes, em que a gordura da carne bubalina é mais branca, devido a traços de B-caroteno e elevada quantidade de vitamina A, sendo o B-caroteno que propicia a tonalidade amarelada característica da gordura da carne bovina. (Rodrigues & de Andrade, 2004) Estudos têm sido feitos para identificar as preferências dos consumidores.
Macêdo & Macêdo (2017) em uma pesquisa de mercado sobre a preferência do consumidor de carnes de bovinos e búfalos encontraram resultados em que os consumidores as diferenciam com alguma dificuldade. Na pesquisa feita, 66% dos degustadores classificaram os cortes de carne bubalina como superiores aos de bovinos, não notando nenhuma diferença entre as espécies. Esses achados demonstraram que o paladar pode não ser um problema, como muitos consumidores possam afirmar previamente ao consumo (Macêdo & Macêdo, 2017).
Para o mercado de carne bubalina se consolidar e crescer, é necessária a realização de mais pesquisas, maior divulgação e marketing, além de legislações específicas sobre qualidade desse produto. A criação de uma identidade, tanto em relação as características como para uma possível solução de incentivo à produção, comercialização e consumo, poderia motivar novos produtores e consumidores.
¹Graduanda em Zootecnia, na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA/USP). ²Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ/USP). Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE), FMVZ/USP.
Referências
Bernardes, O. (2007). Bubalinocultura no Brasil: situação e importância econômica. Revista Brasileira Reprodução Animal, 293-298.
Macêdo, L. d., & Macêdo, É. S. (31 de agosto de 2017). Carne de Búfalo: Uma alternativa saudável. Fonte: Animal business Brasil: https://animalbusiness.com.br/medicina-veterinaria/tecnologia-de-alimentos/carne-de-bufalo-uma-alternativa-saudavel/
Prado, A. (19 de outubro de 2016). Zootecnista fala sobre aumento de pecuaristas na criação de búfalos. (IEPEC, Entrevistador)
Rodrigues, V. C., & de Andrade, I. F. (2004). Características Físico-Químicas da Carne de Bubalinos e de Bovinos Castrados e Inteiros. Revista Brasileira de Zootecnia, 33, 1841. Fonte: https://www.scielo.br/pdf/rbz/v33n6s1/a23336s1.pdf
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